Às vezes há uma voz que se levanta Mais alta do que o Mundo e do que nós E faz chover-me os olhos, quando canta Num pranto que emudece a minha voz Afunda-me os sentidos e o tempo Ao ponto mais distante do que sou E abraça aquele lugar que, tão cinzento, Se esconde sob a névoa que ficou E grita-mo no peito quando sente Chegar a face triste de um amor Mais alta do que o mundo e do que a gente A voz já não é voz chama-se dor. Diogo Clemente / Armando Machado (Fado Licas)
Alfama não envelhece E hoje parece Mais nova ainda Iluminou as janelas Reparem nelas Como está linda. Vestiu a blusa clarinha Que a da vizinha É mais modesta E pôs a saia garrida Que só é vestida Em dias de festa Becos escadinhas ruas estreitinhas Onde em cada esquina há uma bailarico Trovas p'las vielas e em todas elas Perfume de manjerico Risos gargalhadas, fados desgarradas, Hoje em Alfama é um demónio E em cada canto um suave encanto De um trono de Santo António. Já se não ouvem cantigas E as raparigas De olhos cansados Ainda aproveitam o ensejo De mais um beijo Dos namorados Já se ouvem sinos tocando Galos cantando Á desgarrada E mesmo assim dona Alfama Só volta p'rá cama Quando é madrugada. Amadeu do Vale / Raul Ferrão
Com o seu chicote, o vento quebra o espelho do lago. em mim foi mais violento o estrago porque o vento ao passar murmurou o teu nome depois de o murmurar, deixou-me. tão rápido passou nem soube destruir-me nas magoas em que sou tão firme. mas a sua passagem em vidro recortava no lago a minha imagem de escrava. ò liquido cristal dos meus olhos sem ti, em vão um vendaval, pedi, para que se quebrasse o espelho que me enluta e me ficasse a face enxuta. para que se quebrasse o espelho que que me enluta em mim foi mais violento o vento. David Mourão Ferreira/Alain Oulman
Não digas palavras dadas Que não sabes, que não sentes Pois elas trazem as mágoas Que só vêm porque mentes Pois elas trazem as mágoas Que só vêm porque mentes Não consegues entender Que nesse vazio poeta Podes palavras ter Mas nunca a palavra certa Podes palavras ter Mas nunca a palavra certa Se não mentisses seria O amor que tanto espero O da verdade mais fria O da verdade que quero O da verdade mais fria O da verdade que quero Pois esse frio do amor Que nos prende na ansiedade Também há calor na dor A dor que traz a saudade Também há calor na dor A dor que traz a saudade Carminho /Joaquim Campos (Fado Rosita)
Lá vai a Bia que arranjou um par jeitoso É vendedor como ela ali para o Bem Formoso São dois amores, duas vidas tão singelas Enquanto ela vende flores, o Chico vende cautelas
Na Mouraria só falam do namorico A Bia namora o Chico e as conversas são iguais Ai qualquer dia, Deus queira que isto não mude A Senhora da Saúde vai ser pequena demais
O casamento já tem a data marcada Embora qualquer dos noivos tenha pouco ou mais que nada Vai ter a Bia, a festa que ela deseja Irá toda a Mouraria ver o casório na igreja. António José / Nóbrega e SousaTraduzir
There goes to Bia who got a pair of handsome
She's a salesman like her there for the Beautiful.
They are two loves, two lives so simple
While she sells flowers, Chico sells caution
In Mouraria, they only talk about flirtation.
Bia dates Chico and the conversations are the same
Oh God, please do not let this change.
The Lady of Health will be too small
The wedding already has the date marked
Although either bride and groom has little or more than
You're going to have Bia, the party she wants
The whole church will see the wedding in the church.
Escrevi teu nome no vento Convencido que o escrevia Na folha dum esquecimento Que no vento se perdia Ao vê-lo seguir envolto Na poeira do caminho Julguei meu coração solto Dos elos do teu carinho Em vez de ir longe levá-lo Longe, onde o tempo o desfaça Fica contente a gritá-lo Onde passa e a quem passa Pobre de mim, não pensava Que tal e qual como eu O vento se apaixonava Por esse nome que é teu E quando o vento se agita Agita-se o meu tormento Quero esquecer-te, acredita Mas cada vez há mais vento Jorge Rosa / Raúl Ferrão (Fado Carriche)
Vem essa coisa qualquer Como seta da despedida Direito ao meu coração E eu choro e rio sem querer Nunca de mim tão perdida Pobre de mim tão sem jeito E eu choro e rio sem querer Nunca de mim tão perdida Pobre de mim tão sem jeito Que luz é essa que cega Que desatina, atordoa Que vem de dentro e me invade Que me transtorna, se chega Mas quando parte magoa Num alívio de saudade Que me transtorna, se chega Mas quando parte magoa Num alívio de saudade Vem essa coisa tão estranha Vem num laço que desprende Uma doçura que amarga E eu pequenina e tamanha Num corpo que não se rende Uma estreiteza tão larga E eu pequenina e tamanha Num corpo que não se rende A uma estreiteza tão larga Que graça é essa tão séria Que corroi até ao osso E me arde de tão fria Dá-me tudo, até miséria Vem meu amor que eu não posso Viver assim mais um dia Dá-me tudo, até miséria Vem meu amor que eu não posso Viver assim mais um dia Maria do Rosario Pedreira/José António Sabrosa (Fado José Antonio de Sextilhas)
Come this thing any
How Farewell Arrow
Right to my heart
And I cry and laugh unintentionally.
Never from me so lost
Poor me so awkward
And I cry and laugh unintentionally.
Never from me so lost
Poor me so awkward
What light is this that blinds
What a fool, it stuns
That comes from within and invades me
That upset me, if it arrives
But when part hurts
In relief of homesickness
That upset me, if it arrives
But when part hurts
In relief of homesickness
Come this strange thing
Comes in a loop that comes off
A bitter sweetness
And I'm small and she's so big
In a body that does not surrender
A narrowness so wide
And I'm small and she's so big
In a body that does not surrender
To such a narrowness
What grace is this so serious?
That I rot to the bone
And it burns me so cold
Give me everything, even misery
Come, my love, I can not
Live like this one more day
Give me everything, even misery
Come, my love, I can not
Live like this one more day
Maria do Rosario Pedreira / José António Sabrosa (Fado José Antonio de Sextilhas)
Quando virás na vaga proibida Com maresia e vento ao abandono Pôr nos meus lábios um sinal de vida Onde haja apenas pétalas e sono Com o teu olhar de nuvem ou cipreste Como uma rosa oculta por florir Se te chamei e nunca mais vieste Quando virás sem que eu te mande vir Quando quebrando todos os segredos Ma aragem que a poeira deixa nua Virás deitar-te um pouco nos meus dedos Como o sol, como a terra e como a lua E porque a minha boca te sorrira Tentando abrir uma invisível grade Quando virás sem medo e sem mentira Dar ao meu corpo a sua liberdade E porque a minha boca te sorrira Tentando abrir uma invisível grade Quando virás sem medo e sem mentira Dar ao meu corpo a sua liberdade. Pedro Homem de Mello / Casemiro Ramos (Fado Janelas Enfeitadas)
When will you come in the forbidden place?
With sea air and wind to abandonment
To put on my lips a sign of life
Where there are only petals and sleep
With your cloud or cypress look
Like a rose hidden by florir
If I called you and you never came again
When will you come without my telling you to come?
When breaking all the secrets
Ma aration that the dust leaves naked
You will come to lie down a little on my fingers.
As the sun, as the earth and as the moon
And because my mouth will smile upon you
Trying to open an invisible grid
When you will come without fear and without lying
Give my body its freedom
And because my mouth will smile upon you
Trying to open an invisible grid
When you will come without fear and without lying
Give my body your freedom.
Pedro Homem de Mello / Casemiro Ramos (Fado Windows Ornamented)
Disse-me o vento que vinha De bandas não sei de onde Que procurou mas não tinha Ideia onde se esconde Essa paixão que foi minha E ao grito meu não responde Montes e vales corridos recantos do fim do mundo Tão distantes e escondidos tudo em silêncio profundo E estes meus cinco sentidos gemendo a cada segundo De noite foges da lua De dia o sol não te vê Não há ninguém que possua A razão deste porquê E o meu viver continua A estar à tua mercê Sei que existes porque existes E porque foste verdade E com verdade resistes A esta grande saudade Alegra os meus olhos tristes E volta, faz-me a vontade Jorge Rosa, José Pedro Blanc(Fado Blanc)