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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Ana Moura - Vou Dar de Beber A Dor




Foi no domingo passado que passei
À casa onde vivia a Mariquinhas
Mas está tudo tão mudado 
Que não vi em nenhum lado 
As tais janelas que tinham tabuínhas
Do rés-do-chão ao telhado
Não vi nada, nada, nada
Que pudesse recordar-me a Mariquinhas
E há um vidro pegado e azulado
Onde via as tabuínhas

Entrei e onde era a sala agora está
À secretária um sujeito que é lingrinhas
Mas não vi colchas com barra
Nem viola nem guitarra
Nem espreitadelas furtivas das vizinhas
O tempo cravou a garra
Na alma daquela casa
Onde às vezes petiscávamos sardinhas
Quando em noites de guitarra e de farra
Estava alegre a Mariquinhas

As janelas tão garidas que ficavam
Com cortinados de chita às pintinhas
Perderam de todo a graça
Porque é hoje uma vidraça
Com cercaduras de lata às voltinhas
E lá p'ra dentro quem passa
Hoje é p'ra ir aos penhores
Entregar ao usurário umas coisinhas
Pois chega a esta desgraça toda a graça
Da casa de Mariquinhas

Para terem feito da casa o que fizeram
Melhor for a que a mandassem p'rás alminhas
Pois ser casa de penhor
O que foi viver de amor
É ideia que não cabe cá nas minhas
Recordações do calor
E das saudades o gosto
Que eu vou procurer esquecer
Numas ginginhas
Pois dar de beber à dor é o melhor
Já dizia a Mariquinhas
Alberto Janes

It was last Sunday that I passed
To the house where Mariquinhas lived
But everything is so changed
I did not see anywhere
Such windows that had taboos
From the ground floor to the roof
I did not see anything, nothing, nothing.
That you could remind me of Mariquinhas
And there is a blue and blue glass
Where I saw the taboos

I entered and where the room was now
At the desk, a guy who is a teacher
But I did not see bedspreads
No guitar or guitar
Neither sneak peeks of neighbors
Time has stuck the claw
In the soul of that house
Where we sometimes snack on sardines
When on guitar nights and partying
I was happy to Mariquinhas

The windows were so clear they were
With cheetah curtains to cuddles
They have lost all grace
Why is a window pane today?
With can surrounds the turns
And there it goes inside who passes by
Today is to go to the pawns
Give the usurer a few things
For all this grace comes to this misfortune
From Mariquinhas's house

To have made the house what they did
I'd better send it to you
For being a pledge house
What was it to live in love?
This idea does not fit in my
Heat memories
And I miss the taste.
That I'll try to forget
In a few small gypsies
For giving pain to drink is the best
I already told Mariquinhas

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