Mãe, eu quero ir me embora.
A vida não é nada daquilo que disseste, quando os meus seios começaram a crescer.
O amor foi tão parco, a solidão tão grande. Murcharam tão depressa, as rosas que me deram, se é que me deram flores.
Já não tenho a certeza mas tu deves lembrar-te, porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir me embora.
Os meus sonhos estão cheios de pedras e de terra. E quando fecho os olhos, só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais que a escuridão por cima.
Ainda por cima, matei todos os sonhos que tiveste para mim. Tenho a casa vazia, deitei-me com mais homens do que aqueles que amei e o que amei de verdade, nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir me embora.
Nenhum sorriso abre caminho no meu rosto, e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha mas desta vez não chames pelo meu nome, não me peças que fique.
As lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir me embora. Tu sabes...
A tinta com que escrevo é o sangue de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou me embora.
Esperei a vida inteira por quem nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer.
A esta hora, as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar bastava me uma voz que me chamasse mas essa voz, tu sabes... Não é a tua .
A ultima canção sobre o meu corpo, já foi à muito tempo e desde então, os dias foram sempre tão compridos. E o amor tão parco, e a solidão tão grande.
E as rosas que disseste que um dia chegariam virão já amanha, mas desta vez tu sabes... Não as verei murchar.
Aldina Duarte
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