Parceiros
terça-feira, 18 de abril de 2017
António Pinto Basto - Mestre Alentejano
Terra de grandes barrigas
Onde há tanta gente gorda
Às sopas chamam açorda
E à açorda chamam-lhe migas;
Às razões chamam cantigas
Milhaduras são gorjetas
Maleitas dizem maletas
Em vez de encostas, chapadas
Em vez de açoites, nalgadas
E as bolotas são boletas
Terra mole é atasquero
Ir embora é abalar
Deitar fora é aventar
Fita de coiro é apero;
Vaso com planta é cravero
Carpinteiro é abegão
E a choupana é cabanão
E ás hortas chamam hortejos
Os cestos são cabanejos
E ao trigo chama-se pão
No resto de Portugal
Ninguém diz palavras tais
As terras baixas são vais
Monte de feno é frascal;
Vestir bem parece mal
À aveia chamam cevada
E ao bofetão, orelhada
Alcofa grande é gorbelha
Égua lazã é vermelha
Poldra ‘Isabel’ é melada
Quando um tipo está doente
Logo dizem que está morto
E a todo o vau chamam horto
Chamam gajo a toda a gente;
Vestir safões é corrente
Por acaso, é por atrego
E ao saco chamam talego
E até nas classes mais ricas
Ser janota é ser maricas
Ser beirão é ser galego
Os porcos medem-se às varas
E o peixe vende-se aos kilos
E a gente pasma de ouvi-los
Usar maneiras tão raras;
Chamam relvas às searas
Ás vezes, não sei porquê
E tratam por vomecê
Pessoas a quem venero
Não quero, diz-se nã quero
Eu não sei, diz-se *ê nã sê*
João de Vasconcellos e Sá / Popular (Fado Corrido)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário