sábado, 29 de abril de 2017

Alfredo Marceneiro - Lembro-me de Ti





Eu lembro-me de ti, chamavas-te saudade
Vivias num moinho, ao cimo dum outeiro
Tamanquinha no pé, lenço posto à vontade
Nesse tempo eras tu, a filha dum moleiro

Eu lembro-me de ti, passavas para a fonte
Pousando num quadril, o cantaro de barro
Imitavas em graça, a cotovia insonte
E mugias o gado, até encheres o tarro

Eu lembro-me de ti, que às vezes a farinha
Vestia-te de branco, e parecias então
Uma virgem gentil, que fosse à capelinha
Num dia de manhã, fazer a comunhão

Eu lembro-me de ti, e fico-me aturdido
Ao ver-te pela rua, em gargalhadas francas
Pretendo confundir, a pele do teu vestido
Com a sedosa lã, das ovelhinhas brancas

Eu lembro-me de ti, ao ver-te num casino
Descarada a fumar, luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo, o teu busto franzino
Com o avental da cor, e o cantaro de barro

Eu lembro-me de ti, quando no torvelinho
Da dança sensual, passas louca rolando
Eu sonho eu fantasio, e vejo o teu moínho
Que bailava também, ao vento, assobiando

Eu lembro-me de ti, e fico-me a cismar
Que o nome de Lucy, que tens, não é verdade
Que saudades eu tenho, e leio no teu olhar
A saudade que tens, de quando eras saudade
Linhares Barbosa / Alfredo Marceneiro (Marcha do Marceneiro)
I remember you calling you saudade
You lived in a mill, on top of a knoll
Tiny in foot, handkerchief put at ease
At that time you were the daughter of a miller

I remember you, you went to the source
Lying on a hip, the singing of clay
You imitated in grace, the skylark inson
And murmur the cattle, till thou fill the jar

I remember you, that sometimes the flour
I dressed in white, and you looked like
A gentle virgin who went to the chapel
One day in the morning, communion

I remember you, and I'm stunned.
Seeing you down the street, in loud laughter
I want to confuse the skin of your dress
With the silken wool of the white sheep

I remember you, seeing you in a casino
Sassy to smoke, luxurious cigarette
I close my eyes and see, your slim bust
With the apron of color, and the singing of clay

I remember you when in the whirlwind
From sensual dancing, wild raisins rolling
I dream I fantasize, and I see your grinder
Who danced too, in the wind, whistling

I remember you, and I become scared
That Lucy's name, that you have, is not true
I miss you and I read in your eyes
The longing that you have, when you were longing

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